Muitas vezes erra não apenas quem faz, mas também quem deixa de fazer alguma coisa.

Marco Aurélio

Fazer um depoimento de que não somos perfeitos, estamos sujeitos a erros e podemos melhorar é atitude de muita elevação. Somente grandes almas estão abertas mental e espiritualmente para aceitar suas imperfeições e das sociedades a que estão ligadas. E mudá-las.

O papa Francisco disse, em fevereiro, que padres submeteram freiras à escravidão sexual; o pontífice admitiu abusos sexuais de clérigos contra freiras pela primeira vez, de acordo com a Agência Reuters (05/02/2019), republicado no Brasil pelo jornal O Globo de 06/02/2019.

No avião que o levava de volta à Itália, depois da primeira visita da maior autoridade da Igreja Católica à Península Arábica, o papa Francisco admitiu a jornalistas que padres e bispos abusaram sexualmente de freiras, um tema considerado tabu, que ele nunca abordara antes.

— Houve padres e também bispos que fizeram isso — reconheceu Francisco ao ser questionado por uma jornalista, que se referiu a uma matéria publicada em revista mensal do Vaticano.

Sem mencionar nomes, Francisco também afirmou que seu antecessor, Bento XVI, dissolveu uma congregação “porque a escravidão se tornara parte da congregação, mesmo a escravidão sexual por parte de padres e de seu fundador”.

— Trabalhamos por muito tempo sobre esse assunto. Suspendemos vários clérigos, que foram despedidos por isso — afirmou Francisco, sem mencionar nomes nem países. — Não sei se o processo (canônico) terminou, mas também dissolvemos algumas congregações femininas que estiveram muito vinculadas a essa corrupção.

O pontificado de Francisco está marcado por esforços para mitigar uma crise global de escândalos sexuais, sobretudo contra crianças, de uma parte do clero.

Recentemente, diversas freiras, encorajadas pelo movimento #Metoo (“Eu também”), começaram a vir a público denunciar abusos sofridos por padres e bispos. No ano passado, a União Internacional de Madres Superioras, que representa mais de 500 mil freiras, conclamou suas integrantes a denunciar abusos.

Na avaliação de Francisco, é possível encontrar registros desse tipo de violência “em todas as partes”, mas ela está mais presente em “algumas congregações novas e em algumas regiões”.

O pontífice convocou um encontro para o final de fevereiro/2019 no Vaticano, em busca de uma resposta única que previna o abuso sexual contra crianças, e disse que a Igreja também deseja desenvolver uma política semelhante para proteger freiras.

Grandes almas, grandes tarefas – quanto mais oculto o crime e a doença, mais eles se desenvolvem. Parabéns ao papa Francisco pela sensibilidade humana e pela humildade demonstrada.

Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é editor da Editora EME