Quando os amigos deixam de jantar com os amigos por causa de ideologia, o país está maduro para a carnificina.
Nelson Rodrigues
A BBC do Brasil trouxe reportagem sobre alguns momentos em que a violência contra políticos marcou os rumos do Brasil; na eleição passada, um adversário doente atacou e feriu um candidato, o que foi marcante na eleição, e não tem precedentes na história recente do país. Entretanto, a violência contra políticos marcou diversos períodos da História da República.
Do crime passional que matou João Pessoa, candidato a vice-presidente de Getúlio Vargas, em 1930, e virou estopim para a Revolução de 1930, ao atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, em 1954, episódios de violência política têm e tiveram forte impacto sobre a opinião pública em diferentes épocas.
O historiador e professor Américo Freire ressalta esse momento: “Sobretudo em períodos eleitorais como o atual, a política mexe com a cabeça, mas também com a emoção”.
E não é apenas dos partidários que se envolvem, essas disputas criam relações desagradáveis na parentela, e hoje nos grupos familiares.
Aqui trago um pensamento que reflete esse impasse político e que pode custar muito caro para amigos, familiares e adversários ideológicos. Diz o sábio indiano Buda: “Quando não existem inimigos interiores, os inimigos exteriores não conseguirão ferir você”.
Jesus dizia que devemos amar o próximo e, inclusive, o inimigo. Chico Xavier falou que, se devemos amar até os inimigos, com “que amor não devemos amar os nossos familiares” que vieram habitar parede e meia conosco? E o advogado e líder americano que travou ferrenha luta contra múltiplos preconceitos, Martin Luther King Junior, exemplifica a lição: “Amor é a única força capaz de transformar um inimigo num amigo”.
Sabemos que podemos orar por nós e pelos outros, vivos ou mortos. Meu amigo e professor carioca Celso Martins sempre reclamava dos exemplos de desmandos e corrupção dos homens da governança do País e dos Estados. E eu sempre repetia, se as coisas estão difíceis estamos nos redimindo, oremos pelos políticos, que eles estão semeando. Tem tempo de semear e tempo de colher, tempo de nascer e tempo de desencarnar.
A esperança faz parte da trilogia do crescimento espiritual, ao lado da fé e do amor. O advogado carioca que se formou em São Paulo e ali militou como causídico e espírita, Lameira de Andrade (Pedro), depois de sua passagem para o Além voltou pelas mãos de Chico Xavier e aconselhou: “A esperança é uma luz no caminho das horas. A evolução é a transição do ser da condição de escravo à condição de senhor do próprio destino” (Ideal espírita – CEC).
Vejo que, às vezes, a política busca manter os amigos por perto e os inimigos mais perto ainda – parece-nos uma “das artes” dela. Caso das alianças, de candidatos que disseram coisas absurdas do adversário e atualmente estão de mãos dadas. Pode isso?
De outra feita, a política é a “arte” de unir os inimigos e agastar os amigos, e de outra feita aquela frase de que “amigo é coisa pra se guardar”… Depois de alguns anos notamos casos de ex-amizades e inimigos tornarem-se amigos políticos, de outros que passam a acusadores dos amigos da plataforma anterior. Que vida é essa?
Esse é um motivo para não se elogiar os amigos e inimigos antes de eles retornarem à vida espiritual, seja nas zonas purgatoriais ou no céu espiritual; aí sabemos que no plano da matéria não têm mais corpos para nos desmentir.
Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo, diretor da Editora EME