Tenho um amigo que todos conhecem por Darci ou Bau, mas seu nome de batismo começa com Benedito. Será que os irmãos não gostaram do nome escolhido pelos pais e começaram a chamá-lo de Darci? Ou então foi pelo sucesso na empresa que passaram a chamá-lo por Bau?
No sábado último do ano de 2017 saí de Capivari com chuva para visitar o Darci em sua chácara em Tietê. No caminho estava pensando que, no mês de outubro, eu iria buscar o amigo Noel para assistir a um jogo de futebol, mas antes tinha que ir até um sítio em Tietê, do Chico Cerezer, comprar ração para peixes. Na ida e volta, um mês depois apareceram duas multas no pedágio da rodovia Rafard-Tietê. Por isso, fui bem devagar desta vez…
Chego na chácara do Bau e encontro os filhos, Rodrigo e Fernando, ao lado da mãe, Vilma, cuidando de Darci. A filha, Adriana, que é médica, estava de plantão. Conversamos com os familiares, falamos, na antessala, sobre o estado de saúde e a melhoria do Bau, que viera do hospital desacordado e agora já reconhecia as pessoas e ensaiava algumas palavras e pensamentos, inclusive, manifestando seu agrado e desagrado com os cuidados que recebe dos enfermeiros.
Confiança é uma palavra chave na vida das pessoas. O hospital é muito bom, tem muitos recursos, mas a casa tem o aconchego e o amor da família. A pessoa volta para casa e na confiança do cuidado dos seus se recupera; o Bau melhorou, já sorri, com os olhos azuis, sua cabeça calva, com alguns espetos de agulha de acupuntura que o filho fisioterapeuta lhe aplica para aliviar a dor.
Como é gratificante ter filhos, não um, mas três. Eles estão ali do lado, conversando, animando e procurando entender as frases não compreensíveis de um pai amoroso, que gostava da chácara e do futebol no fim de semana.
Hoje, na cama em busca de uma recuperação que virá espiritualmente, porque todos nós estamos passando na Terra pelo ajustamento da alma, mesmo que às vezes com as dores do corpo.
O ex-jogador da seleção francesa de futebol, Zinedine Zidane, em uma declaração no passado, diz também ter aprendido uma lição de vida com a dor do próximo: “Uma vez chorei porque não tinha sapatos. Logo conheci uma pessoa que não tinha os pés e, então, me dei conta do tão rico que sou”.
A oração é ação em favor de si e de outrem. Eu a exercito constantemente, anotando os nomes num papel para pedir também pelos outros (amigos ou não), inclusive pelos que são mencionados no jornal. E aprendo que, quando realizada com fé e sinceridade, ela é um poderoso antídoto às agressões psíquicas e emocionais que nos afetam. Entendo que hoje não há mais lugar para altares, oferendas ou sacrifícios. O único sacrifício exigido é o serviço sagrado de cultivar a amizade, de fazer o bem ao alcance de cada um, amizade que requer disciplina e constância para ser fraterna.
Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é diretor da Editora EME e
especialista em dependência química com formação pela USP/SP/GREA