A dor possui um grande poder educativo: faz-nos melhores, mais misericordiosos, mais capazes de nos recolher em nós mesmos, e persuade-nos de que esta vida não é um divertimento, mas um dever.

Cesare Cantú (1)

 

Um estudo rápido da dor (dor que ninguém quer, e que poucos suportam) nos mostra que ela é o instrumento de crescimento do espírito: ou nos alavancamos pelo amor ou pela dor.

Não dá para fazer uma lista das dores porque elas parecem infinitas, mas todas nos colocam no caminho da iluminação, quando bem sofremos. O apóstolo Paulo, em sua carta aos Romanos (8:18), afirma: “A dor que você está sentindo não pode se comparar com a alegria que está a caminho”.

Das muitas dores, a da morte parece a mais difícil de entender e aceitar em algumas circunstâncias, mas devemos seguir nossa estrada, como diz a escritora Lya Luft: “Perder dói! Não adianta dizer ‘não sofra, não chore’; só não podemos ficar parados no tempo chorando nossa dor diante das nossas perdas”.

A espiritualidade tem nos ensinado que morrer, deixar o corpo, é o mesmo que se transferir para um lugar que reflete o mundo que trazemos por dentro, o que realmente somos. Jamais lamentemos a morte, porta libertadora da alma.

É natural sentir saudade, que alcança e fere com a dor, nos dois mundos, àqueles que ficaram e àqueles que se foram. Saibamos que morrer nunca é um fim, e também nem um começo: já morremos milhares de vezes e retornamos ao lago imenso da imortalidade.

Segundo um diretor de colônia espiritual correcional, chamado Druso, são três os tipos de dores que acometem a Humanidade: a dor-evolução, a dor-expiação e a dor-auxílio. (2)

O instrutor explica: “A dor-evolução atua de fora para dentro, aprimorando o ser, e sem ela não haveria progresso. O ferro sob o malho, a semente na cova, o animal em sacrifício, tanto quanto a criança chorando, irresponsável ou semiconsciente, para desenvolver os próprios órgãos, sofrem a dor-evolução”.

“A dor-expiação vem de dentro para fora, marcando a criatura no caminho dos séculos, detendo-a em complicados labirintos de aflição, para regenerá-la, perante a Justiça.”

E quanto à dor-auxílio, Druso amplia os comentários: “Em muitas ocasiões (…) pela intercessão de amigos devotados à nossa felicidade e à nossa vitória, recebemos a bênção de prolongadas e dolorosas enfermidades no envoltório físico, seja para evitar-nos a queda no abismo da criminalidade, seja, mais frequentemente, para o serviço preparatório da desencarnação, a fim de que não sejamos colhidos por surpresas arrasadoras, na transição da morte. O enfarte, a trombose, a hemiplegia, o câncer penosamente suportado, a senilidade prematura e outras calamidades da vida orgânica constituem, por vezes, dores-auxílio, para que a alma se recupere de certos enganos em que haja incorrido na existência do corpo denso, habilitando-se, através de longas reflexões e benéficas disciplinas, para o ingresso respeitável na Vida Espiritual”.

 

Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo, diretor da Editora EME

(1) Cesare Cantù foi um historiador, escritor e importante intelectual italiano.

(2) Ação e reação, cap. 19, André Luiz (Chico Xavier) – FEB.