O álcool não faz as pessoas fazerem melhor as coisas; ele faz com que elas fiquem menos envergonhadas de fazê-las mal.
William Osler (1849-1919)
Uma história com finais diferentes. Os irmãos gêmeos cresceram vendo os pais discutirem, e mais: o genitor constantemente embriagado, agressivo e, muitas vezes, irresponsável pela manutenção da casa e da família.
Na adolescência, os filhos viveram a separação do casal, e então o pai desandou no alcoolismo, não parava em emprego algum, constantemente se envolvendo em brigas e discussões.
O tempo passou e os reencontramos, agora dois senhores.
Um que não tem emprego fixo, anda e se veste descuidado e constantemente embriagado. No casamento não deu certo, separou-se e nem sempre honra o pagamento da pensão alimentícia – que desordem para os filhos.
Quando interrogado do porquê dessa vida, responde que aprendeu com o exemplo do pai, que era alcoólatra. Vida sofrida, desilusão, separação e dor.
O outro, engenheiro bem-sucedido, administrador de uma construtora, sempre bem acompanhado, gosta de leituras e viagens com a família.
Quando interrogado do porquê desse sucesso na vida, responde que aprendeu com o exemplo do pai, que era alcoólatra, a não beber, e sim a estudar e se esforçar para não fazer nada daquilo que viu em sua família, procurando ser bom e útil.
O bom é que existe recuperação para o alcoolista, desde que ele deseje. Tem atendimento no CAP’s AD, pode-se buscar um profissional com especialização em dependência química, um psicólogo, terapeuta ou médico e o grupo de anônimos dos doze passos, conhecidos no mundo todo e que já recuperaram e continuam recuperando milhares de pessoas escravas do álcool. É o grupo de AA.
Eu ouvi uma história, recente, bem interessante. Vou contar. Um senhor com 67 anos, que se encontra em recuperação no AA há 35 anos, partilhou que por muita insistência da família foi internado. Porém, no pensamento dele, a entrada na clínica não era para parar de beber e sim para parar de tremer, tal o estado avançado do seu alcoolismo.
Ele foi internado num hospital público que só tinha médico, remédio e enfermeiro, e viu casos absurdos de sofrimento de pacientes, já em delírio, com surto e até esquizofrênicos, que o fez temeroso de sua doença, que hoje é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde – adicção ao álcool. E uma coisa boa que ouviu do seu médico é que “seu caso seria para o AA”.
Depois que saiu da internação começou a frequentar o AA e também o bar, recaindo no primeiro mês. Continuando no Grupo do AA aprendeu a evitar lugares da ativa, amigos da ativa, gostos da ativa (festa, churrasco – onde sempre tem álcool).
Com mais de trinta anos em recuperação e liberto do cigarro, em um jantar com a família, indagou: “Sogra, a senhora acreditava que eu iria parar de beber?”, E a mãe de sua mulher, sincera, disse: “Posso dizer a verdade? Eu não acreditava”. Ele então disse: “Ainda bem que foi a senhora quem não acreditou, porque eu acreditei e estou muito bem, feliz, sem nunca mais usar álcool”.
Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo, bacharel em direito com especialização em dependência química pela USP/SP/Grea