E, por último, como se quisesse deliberadamente legar-nos preciosa lição de caridade para com os alienados mentais, declarados ou não, que enxameiam no mundo, o Divino Amigo prefere partir da Terra na intimidade de dois ladrões, que a Ciência de hoje classificaria por cleptomaníacos pertinazes.

Emmanuel (Chico Xavier) – Seara dos Médiuns – FEB

 

Alguns pensadores e escritores trataram desse tema; o poeta Olavo Bilac, quando no corpo físico, escreveu: “A ocasião faz o roubo, o ladrão já nasce pronto”.

Mas, como não existe morte, Olavo volta através de Chico Xavier, no primeiro livro psicografado por este, Parnaso de Além-Túmulo, dizendo da escolha de dar liberdade a um ladrão e morte a um inocente: “’Crucificai-o’ – exclama… Um lamento lhe chega / Da Terra que soluça e do Céu desprezado. / ‘Jesus ou Barrabás?’ – pergunta, inquire o brado / Da justiça sem Deus, que trêmula se entrega”.

  1. K. Chesterton, escritor inglês, afirmou que “O certo é certo, mesmo que ninguém o faça. O errado é errado, mesmo que todos se enganem sobre ele”.

Pessoas praticam furtos: eles eram já ladrões e as oportunidades dispararam os cleptomaníacos adormecidos neles?

No Banespa eu era responsável pelo financiamento agropecuário. Em visita com nosso engenheiro agrônomo a um sitiante, ele nos contou de bom humor:

“Veja como são as coisas, comprei mudas, plantei dois pés de maracujá, estaquei-os, coloquei palanques e fios de arame para eles caminharem em seus ramos. Um doce e um azedo, para suco; estavam lindos, bem-cuidados, adubados, sem lagartas, viçosos. Quando no final de semana fomos ver, cadê um deles? Sumiu. Só ficou a cova, vazia, como a sepultura do Cristo, sem corpo. Será que meu vizinho virou ladrão ou entrou outro e surrupiou a planta?”

Respondi: “Sempre tem mais de uma possibilidade, não é verdade?”.

E nos disse com entusiasmo o agricultor: “Com tanta coisa para furtar aqui, galinhas, patos, porcos, sua escolha foi o meu pé de maracujá, interessante a escolha! Fui de imediato plantar outra muda no lugar, tomando o cuidado de preparar novamente o solo para receber a belezinha escolhida”.

Numa clínica de tratamento em dependência química onde faço palestras e respondo dúvidas sobre recuperação e os efeitos das drogas, inclusive tabaco, álcool e remédios, tínhamos dificuldades por não ter no local, muito agradável entre árvores e próximo da piscina e campo de futebol, com muito verde, uma cadeira para se sentar de modo mais confortável, quando necessário acertar um vídeo do notebook ou regular a projeção no datashow.

Depois de quase um ano, conseguiu-se uma cadeira de rodinhas e braços, nos servindo.

Chegando de outra feita lá, cadê a cadeira? Deixou as rodinhas e criou pernas. Com mais de 50 pacientes, coordenadores, enfermeira, psicólogo, terapeutas, psiquiatra, ninguém sabia dizer como foi essa desmaterialização do móvel. Desapareceu e não deixou sinal.

Um ladrão furta algum objeto, mas não furta nossa serenidade. Sabiamente, como terapeuta da alma, o escritor Shakespeare concluía que “o ladrão vê em cada sombra um policial que o persegue”.

Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo, diretor da Gráfica e Editora EME